Vanguart

Vanguart

Artist

Há quase dez anos o garoto Helio Flanders criou uma banda imaginária em seu quarto em Cuiabá (MT). Depois da experiência frustrada de ter uma banda aos 14 anos (a glam Valium, que não durou um ano), ele dedicou-se ao violão e a compor para si mesmo. Tocando todos os instrumentos e gravando tudo sozinho, inventou o nome ‘Vanguart’ ao assistir a um programa de TV sobre Andy Warhol e batizou a tal banda de um homem só com o nome. Não gostou do primeiro disco que gravou (“Ready To…”, de 2002), mostrou para uns amigos, mas logo engavetou. Logo depois, gravou o segundo disco (“The Noon Moon”, em 2003) sem muito alarde e foi passar uma temporada na Bolívia. De lá, voltou para assumir a banda que inventara. Então mostrou as músicas para mais amigos, colocou algumas faixas online e decidiu tirar a banda da cabeça, arregimentando músicos de outras bandas da cidade. Flanders se uniu primeiro ao baixista Reginaldo Lincoln e depois ao guitarrista David Dafré, o tecladista Luiz Lazzaroto e o baterista Douglas Godoy.

O grupo começou a despontar para o resto do país no final de 2006, quando organizou suas músicas online no MySpace, na TramaVirtual – e passou a compor em português. Aos poucos, o nome da banda começava a despontar em algumas rodas de conversa, em vídeos no YouTube, em blogs de música – e seus primeiros shows no Rio e em São Paulo são bem recebidos, embora com alguma estranheza.

Os anos entre o quarto de Helio e o início da peregrinação pelos principais festivais independentes do país foram cruciais para que a banda ganhasse cancha de palco e intimidade com o público. Fora o fato de antecipar a nova onda folk, que dominou 2008, em pelo menos um ano. Só em 2007 o grupo lançou seu primeiro disco, batizado apenas de “Vanguart”, encartado na revista Outracoisa – publicação independente de Lobão. Em sua primeira coleção oficial de canções, o Vanguart mostrava sua carta de intenções, que incluía a cena indie brasileira, a canção sul-americana, a história do rock e um cânone de cantores-compositores que começa em Bob Dylan, passa por Leonard Cohen, Judy Garland, Nina Simone e Joni Mitchell e termina entre Belle and Sebastian e a fase anos 90 de Lobão (a trilogia que começou com “Nostalgia da Modernidade” e acabou em “A Vida é Doce”). Entre as faixas do trabalho estão “Semáforo”, “Para Abrir os Olhos”, “Enquanto Isso na Lanchonete” e “Cachaça.

O segundo disco da banda, o CD e DVD “Multishow Registro – Vanguart” (Universal Music), foi baseado no primeiro trabalho do Vanguart. Agravação também foi ao ar no especial de TV “Multishow Registro – Vanguart” e mostrou faixas novas, como “You Know Me So Well”, “Entre Ele e Você”, “Mexico Dear Blues” e “Promessas de Navegação”. O guitarrista paulistano Luiz Carlini (Tutti Frutti) foi o convidado na inédita “You Know Me So Well”, já o maestro gaúcho Arthur de Faria é o responsável pelos arranjos de cordas do show gravado no dia 11 de novembro de 2008, no Avenida Club (SP). A banda também convidou Mallu Magalhães para fazer um dueto Dylan-Baez em “The Last Time I Saw You”. O trabalho foi um passo natural em questões de visibilidade para o grupo. Programas como “Jô Soares” e “Altas Horas” se renderam a força que o Vanguart trazia à cena, somados a uma turnê nacional de muito sucesso.

Durante 2010, a banda enfurnou-se em seu apartamento na Barra Funda em São Paulo para criar as canções do inédito “Boa Parte de Mim Vai Embora”. Não foi ocultado por Flanders e Lincoln (principais compositores das canções da obra) que o tema principal do disco eram suas separações e voltas com suas namoradas. Curiosamente refletido em “Blood on the Tracks”, álbum pungente e clássico de Bob Dylan lançado em 1975, o novo trabalho mostra um Vanguart mais maduro em todos os sentidos: Quase totalmente em português, pode-se aprofundar mais nas letras de Helio (dessa vez com fortes influências de Walt Whitman e Borges) e os músicos a possibilidade de criarem atmosferas ainda mais psicodélicas, ora mais folk, ora mais world music ou rock clássico. Tudo parece conspirar para uma redenção: “Assim como os amores, às vezes a vida dá voltas também e precisamos voltar ao início. O amor pode ir e voltar quantas vezes? Até onde podemos ir entre o orgulho do rompimento e a redenção da volta?” Pergunta Hélio, que ainda arrisca o trompete em duas músicas. Nesse clima de redenção, o álbum foi registrado no esquema ao vivo em apenas três dias no Estúdio Inca em Cuiabá. Juntou-se a eles Fernanda Kostchak, violinista e arranjadora, funcionando como sexto integrante do grupo e trazendo ainda mais cor e imagens ao som da banda. Canções como “Nessa Cidade” e “O Que A Gente Podia Ser” já nasceram clássicas enquanto “Mi Vida Eres Tu” e “Depressa” vem pra fazer o papel das músicas a serem cantadas na íntegra pelos fãs em seus shows. Ao se ouvir o álbum, a impressão é que o tal Vanguart está realmente há anos luz de ser uma “banda imaginária”. Provavelmente nem seu criador imaginasse o poder que o grupo pudesse adquirir juntando elementos tão distintos. Parece que cada passo seguinte evidencia cada vez mais essa personalidade própria. Talvez um dos segredos esteja na passionalidade com que os 5 (ou 6?) abraçam a banda: Mi Vida Eres Tu.